
" A vida sinuosa"
« A Celidónia era uma franzinita loira, de tez ruiva transparente, fino nariz de provocar. O seu jarrete era delgado e a anca flexível. Nunca trocámos um beijo, nunca ela pudera suportar o meu braço no seu braço e, no recanto dos sonhos monacais, chamava-lhe minha e ela, de olhos no chão, mal bulindo os lábios, mais cândida do que a Virgem quando nos painéis primitivos aceita a mão de S. José, respondia: e tu és meu!»
Nunca li Aquilino Ribeiro. Porquê?
Desde Eça de Queiroz, Fernando Pessoa até José Saramago, já li diversos escritos portugueses, muitos por influência curricular, lembro-me de Aparição de Virgílio Ferreira e a sua dicotomia entre a montanha e a planície alentejana, acompanhado dos nocturnos de Chopin e a teoria existencialista. Aquilino Ribeiro não me lembro de constar em nenhum programa curricular, nem sei se actualmente consta do Plano Nacional de Leitura. Aquilino trabalhou incessantemente até ao dia da sua morte, lutou pela liberdade, pagou com a prisão e com o exílio, e o país tardiamente lhe fez justiça, apenas e simbolicamente, trasladou os seus restos mortais para o Panteão Nacional.
Resta incluir os seus livros no quotidiano literário português e desde já aconselho a colecção lançada pelo Círculo de Leitores.
Qualidade e riqueza linguística, aconselha-se e Aquilino merece essa distinção.